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INTRODUÇÃO : quarentena

faz um tempo que a minha relação com o espaço-tempo, principalmente o tempo, vem mudando.


bem gradual, cada hora percebo um novo detalhe dessa nova relação.


isso é resultado de uma série de fatores, dentre eles : drogas, maturidade, experiências, imaginação, desejos, insônia e descanso, a calma e a ansiedade. mas também é resultado da subtração de alguns desses e mais outros, a exponencialidade, etc. impossível pontuar mesmo que em mil pontinhos os motivos.



é uma sensação quase insuportável, pois me sinto num espaço onde a vida é eterna demais e acabo caindo numa profunda reflexão do “porque, então?”


o porque me acompanha há alguns meses. não encontro motivos para ___________ /adicione aqui qualquer coisa/


apesar de querer muito fazer tudo o que ando fazendo _ou que no momento espero acontecer para poder trabalhar_ eu sinto que não queria estar fazendo nada.


quando em bando então, a sensação piora. quando saio de casa, saio do meu quarto, do meu intimo eu percebo mais ainda essa diferença do meu tempo e do tempo do mundo.


não estamos na mesma velocidade definitivamente.


faz meses que me sinto numa noite fria. o sol não me agrada, apesar de sempre ter me agradado tanto. de ser o planeta-domicílio do meu signo solar.


entenda : em nenhum momento estou triste, deprimida, sem vontade de viver. a sensação de que eu não deveria estar fazendo nada, na verdade, seria como se fosse uma espécie de quarentena _que já dura 40+40 dias_. um processo de cura, de auto-perdão, de transmutação, transformação, preparação para Só-elA-Sabe-O-Que que está preparando pra mim.


inclusive, mesmo na época que não conseguia me mexer ou sair, que passava o dia chorando e tossindo, tossindo e chorando, escrevendo e me isolando eu não podia estar mais feliz e satisfeita.


poxa, finalmente parece que eu me permiti parar. em Outras Fases de Mim eu teria me irritado com a doença, com a pausa, com o parar. Mas dessa vez foi diferente : eu aprendi que tudo passa, a dor passa, a tristeza passa, a alegria também então me apeguei nessa ideia e controlei a respiração pra não me afobar nem me sufocar.


e os 5 meses e meios mais difíceis que vivi até hoje tanto em questão emocional e física _foi tudo ao mesmo tempo_ passaram tranquilamente.




_




recentemente fui à um lago. a água mais parada que já vi. algumas luzes ao redor, mas não muito fortes. algumas bolhas na água fruto da respiração das vidas que estavam ali, mas que são invisíveis. quando sentei e senti a brisa que trazia o cheiro de mata para meu corpo eu percebi :



é em algum lugar parecido deste que a outrA está.


e o que ela está fazendo? o que demora tanto para ser preparado?


quando eu penso nela automaticamente me vem a imagem da natureza, aquele mesmo cheiro, aquela mesma paz. aquele tempo. o tempo da terra que é tão eterno que não conseguimos nem imaginar. quem dirá sentir, mas uma amostra tem corrido pelo meu corpo.


o_frio_tem_cheiro_de_nostalgia




repare que essa noite fria que disse que sinto que estou não é nada ruim. não estou presa nela, estou por opção. eu continuo fazendo minhas coisas, estudando, vendo gente, seja la o que eu estou fazendo…


_muitas vezes acho que não estou fazendo nada e quando paro pra pensar, até agora que me sinto adormecida, estou fazendo a mesma quantidade de coisas que eu fazia uns tempos atrás quando fazia muita coisa_



mas nada parece ser muito eficaz ou quem sabe real.




eu ando tentando por em palavras esse vazio que é preenchido, essa sensação de não-pertencimento, mas é muito difícil. tenho medo de cair naquele clichezão de escritores que tentam pôr em palavras questões diversas da vida e acabam dando voltas e voltas, sendo que esse sentimento é muito pontual.



passei a acreditar de pés juntos _na verdade desde sempre_ que não é possível que só exista uma realidade. começando pelo simples fato de que Cada Ser Humano Sente De Uma Forma Diferente. isso já abre o leque em infinitas possibilidades do sentir, por exemplo : fome. amor, dor são muito comuns, mas cabem nisso também.


as vezes acho que eu saí um pouco da vibração e das ondas do mundo num todo. eu me olho no espelho e me reconheço. reconheço meu rosto, meu corpo. não me reconheço muito nas minhas roupas quando paro pra pensar como que alguém de fora está me olhando _e principalmente quais são os pré-julgamentos que diferentes pessoas têm de mim. oras, uma jovem branca vestida inteira de preto cheia de tatuagens inclusive na cara… uma alterninha estudante de artes ou comunicação que deve acreditar em amor livre, ser vegana e falar palavras difíceis enquanto toma vinho numa quarta-feira a noite_



e nada disso é mentira, inclusive tudo é bem verdade. ou quase.




até porque um lado de mim é isso. é o meu lado social e não dá pra negar ou esconder. nem quero, longe disso.


mas não reflete muito bem tudo o que passa dentro de mim. por isso que eu uso a lente branca ou pinto meu corpo. acredito que desse jeito eu me aproxime mais de Mim. mas não dá pra ser Eu sempre _ou ser a outrA, no fim é a mesma coisa_. é cansativo. elA _ou Eu_ precisa de um tempo para aparecer, para ir, para ficar, criar, destruir.


Principalmente Destruir.



ontem minha mãe me comparou à Shiva. uma amiga hà mais tempo disse que pareço Kali. Engraçado que Kali é a esposa de Shiva _inclusive bem mais poderosa que ele_ e os dois são o poder da destruição.


pode ser que depois de tais comparações eu tenha criado uma imagem Minha _ou delA_ dentro de mim que se baseou nisso, mas não acredito nessa teoria. ela sempre foi uma força destruidora.


até porque :



destruição

u-i/

substantivo feminino

1. ação ou efeito de pôr abaixo o que está construído; demolição.

“a construção do prédio implicou a d. de todo um quarteirão”

2. ação ou efeito de tirar a vida; eliminação, exterminação, morte,

“deve-se progredir, mas sem causar a d. da flora e da fauna”


destruição está carregado de peso pejorativo principalmente por causa do catolicismo.


uashasuhasu zuera não sei se é por isso mesmo, mas boto mó fé que é porque eles adoram o binarismo do Bom e Mau, Deus e Diabo, Destruição e Construção.


mas pra mim destruição é a mudança. algo que era de um jeito não é mais e não significa também que mudou por completo. as vezes só mudou um pouco e nisso já parece destruído por não ser mais a mesma coisa.


inclusive o segundo significado ali fala da morte.


você sabia que recentemente eu quebrei uma costela de tanto tossir? e quando fui ler sobre Shiva a primeira coisa que dizia é que ele é a força da destruição e podia chegar como uma doença forte que nos força a parar e retomar a nossa verdadeira missão? você sabia também que a minha tosse veio depois de diversos términos que vivi, sendo eles: uma formatura, um aborto e o término de um relacionamento saudável? Shiva é sinônimo de Saturno na língua dos astrólogos e você sabia que Saturno tá retrógrado e ficará assim por dois anos? E você sabia que Meu Saturno é em Áries, que é o signo mais acelerado do zodíaco?


Você não acha que isso explica bem o porquê de eu estar sentindo o tempo de maneira tão diferente? Meio atrasada, parada, mas andando. Saturno desacelera as coisas, força a gente a olhar pra elas, muda tudo de lugar, mas nunca de maneira bruta, rápida. É sempre lento, por que assim as coisas conseguem se firmar.


Tudo que é feito sem calma fica com bases frágeis.


Você sabia que eu tenho calma tatuado no joelho como forma de lembrete?




_agora sobre a outrA_


você sabia que Kali vive afastada da sociedade e aparece em duas ocasiões : festas e pra causar a destruição _ou, na minha interpretação que considero bem mais legal, pra movimentar_


Bem… literalmente nessas duas situações que eu sinto o chamado da lente. Ache O Que Quiser, mas eu sempre sei a hora e o dia exato de colocar a lente. É uma sensação única, que nem a vontade de mijar. Você só sente aquela vontade quando precisa fazer xixi. Você nunca vai sentir se não precisar. É exatamente assim minha relação com minha lente branca.


Claro, mesmo sem a lente branca essa sensação existiria. Ela vem quando eu sinto que a outrA quer dar uma passadinha aqui nesse mundo, ou pros outros verem, ou pra ela ver como que anda.


Quase como quando eu sinto que estou a observando viver no campo onde vive. parece que ela de vez em quando pensa em mim e vem pra cá me ver.



Muita coisa aconteceu nesse intervalo de tempo da vida que eu não tenho como explicar sem usar a astrologia, já que tudo que aconteceu ela explica.


Também não tenho como explicar sem usar referências do livro Mulheres Que Correm Com Lobos, já que tudo que ela fala toda mulher já sentiu ou vai sentir.



inclusive, tem um conto que é da mulher esqueleto. ela é pescada pela costela _lembra que eu disse que quebrei a minha?_ e o conto ensina sobre os ciclos da vida. a morte-vida-morte e como tudo acaba e começa novamente. no mesmo lugar ou não. nós morremos-vivemos-morremos diversas vezes durante a vida e são esses momentos de Saturno, de Shiva, de transformação, de traumas, de acontecimento, que fazem a gente morrer. É o processo de cura que faz a gente nascer e como a vida segue e as coisas continuam influenciando umas nas outras, nós morremos novamente.


eu gosto de morrer. sempre me conheço de novo e gosto do resultado. se não gosto, morrerei mais uma vez com certeza, então me acalmo e sigo.



_uma curiosidade também que me foi exposta pela minha irmà Maria Olivia Aporia : na bíblia a mulher é feita da costela do homem_



se a vida é basicamente nós todos tentando significar nossa existência para nós mesmos e para o próximo, nada mais natural do que tentar se encontrar em símbolos e histórias.


por alguns minutos eu pensei em apagar para sempre as comparações entre E(e)u e as divindades e o planeta citado, mas não. tudo é extensão de tudo, tudo que existe se repete de maneira diferente da original. os contos, os deuses, se foram inventados, foram para exemplificar, metaforizar coisas que acontecem na realidade.


A C O N T E C E M no presente porque não fica só no passado.


Até a história do patinho feio fala sobre nós humanos, porque então não posso me comparar com a energia e vitalidade de um Deus? pode ser de outra cultura, pode ser de outra época, mas não deixa de ter sido humano, com características humanas.



claro, pessoas e pessoas, deuses e deuses. já que os deuses são personificações de energias e vontades, obviamente não será com todos que nós vamos nos identificar, mas não acho saudável ficar se colocando somente no patamar de humano e nada mais. insignificante e pequeno. ovelha de deus.


séloco macumba do bode comigo ninguém pode tira essa insignificância de mim.

você entende agora a relação da outrA _ou de Mim_ com todos esses símbolos?


a auto-análise e o auto-conhecimento é ótimo até para melhorar nossas relações com o mundo exterior. se nos colocarmos em diversas situações imaginárias e conseguirmos reagir à elas de maneiras diferentes, seremos mais capazes de exercer a empatia. também fica mais fácil de lidar com certos sentimentos, já que v e r b a l i z a r ajuda no processo de auto-cura.


eu falo sozinha todos os dias. o dia inteiro se permitirem eu fico falando comigo e com os outros que habitam meu imaginário.


outros reais, no caso.



inclusive esses dias eu consegui quase que resolver uma angústia que me acompanha há 5 meses só falando sozinha.


imaginei a pessoa na minha frente e propus uma nova chance de nos conhecermos e isso, assim como um dramin na veia, resolveu o problema de maneira mágica e rápida.



poderia ter pensado nessa solução antes, assim pouparia tanto tempo de auto-culpa.

quando tudo aconteceu _que aconteceu num intervalo de uma semana_ eu achei que ia passar super de boa, mas não consegui perceber alguns detalhes logo de cara : eu estava apática. não tinha como eu sentir muita coisa sendo que foram emoções muito fortes ao mesmo tempo. o que me parece, escrevendo agora, é aquela situação em que você desmaia antes de sentir a dor.


mas não se engane. mesmo que você tenha desmaiado enquanto voava da moto num acidente de carro, você acorda no hospital todo dolorido.

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